Neste terceiro artigo, tratando de pornografia, abordo os seus impactos sobre a infância devido ao acesso ilimitado das vítimas às redes sociais. Para tanto, uso a pesquisa empírica em diversos sites pornográficos e os estudos sobre a pedofilia para perceber como a expansão do consumo de pornografia entre os adultos afeta a “dignidade humana” (Sarlet, 2001) de crianças e adolescentes.
Assim, busco encontrar, através de análises de sites pornográficos e textos temáticos, possíveis conexões entre o consumo dos “voyeurs de pornô” e a violência sexual infantil. Onde os danos socioemocionais para as vítimas são profundos, tendo efeitos negativos no pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes, que podem se estender durante toda uma vida na fase adulta.
Porém, mesmo com os inúmeros danos causados pela situação perniciosa contra crianças e adolescentes, os registros de casos de violência infantil no Brasil – incluindo aqueles relacionados à violência sexual – continuam crescendo. A maioria das vítimas são do sexo feminino – em 2023, foi constatado que as meninas abusadas corresponderam a 87,1% dos casos de violação ocorridos no país (Fundação Abrinq, 2025).
A maior parte das pesquisas sobre a pedofilia prioriza a vítima, mas os dados criminais têm mostrado que a maioria dos pedófilos são “voyeurs de pornô” ou consumidores de pornografia. Através de suas práticas pervertidas nos meios virtuais tendem a persuadir crianças e adolescentes, expostas sem controle às redes sociais, a reproduzirem cenas de nudez e atos libidinosos comuns em vídeos pornô.
Entre os pedófilos existe uma predominância de homens, que buscam satisfazer desejos sexuais ou algolagnia ativa. Conforme Naira Araújo (2004), a pedofilia consiste em um distúrbio de conduta sexual, ou uma perversão de caráter compulsivo e obsessivo, em adultos com atração sexual, exclusiva ou não, por crianças ou adolescentes.
Os pedófilos são indivíduos de ambos os sexos sem distinção de classe social, que possuem atração sexual primária (ou exclusiva) por crianças ou adolescentes, mesmo sem nenhum contato sexual efetivo – como ocorre nas redes sociais. Todavia, nem todos aqueles que praticam o abuso sexual em crianças ou adolescentes são pedófilos, pois “podem ter sido impulsionados por outras variáveis que não a predileção sexual por infantes” (Salter, 2009).
Nesse contexto, como o Brasil ocupa uma das primeiras posições no consumo de pornografia, deduz-se que pode existir muitos pedófilos escusos entre os “voyeurs de pornô” se utilizando das redes sociais para arrebatar sexualmente crianças e adolescentes, principalmente àquelas que estão mais expostas no mundo virtual. Ou seja, sem controle efetivo de pais ou responsáveis.
Nesse sentido, o aumento do consumo de pornografia – para além dos danos na saúde mental e sexual do “voyeur pornográfico” – pode ter muita influência no crescimento dos casos de pedofilia, afetando negativamente a dignidade de crianças e adolescentes, “decorrente da própria condição humana, que os torna credor de igual consideração e respeito por parte de seus semelhantes” (Sarlet, (2001).
Assim, tanto o uso de pornografia quanto a prática de pedofilia revelam características psicossociais próximas, onde o comportamento de usuários e dos pedófilos se expressa de forma menos invasiva e nem sempre agem com violência, impedindo que as crianças, os adolescentes e os seus responsáveis notem o fato analiticamente.
Portanto, os “voyeurs de pornô” estimulam o consumo de pornografia, que pode esconder muitos pedófilos.
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